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Blocos de rua

Bloco Terreirada Cearense mescla política com arte nordestina popular no RJ

Bernardo Moura

Em colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

25/02/2017 22h24

Milhares de foliões se reuniram neste sábado (25) no Rio de Janeiro para sentir um pouquinho do sabor do Nordeste durante o Carnaval. Desde 2011, o bloco Terreirada Cearense invade a Cidade Maravilhosa com zabumbas, baião, xaxados e muitas cores e bailados.

A edição deste ano, com o enredo "Entremeios de Reinado", contou histórias e lendas de personagens e trouxe muitas sereias, lobisomens, peixes, curiabás  e onças.

A responsável pela personificação de todas estas histórias foi Ligia Granjeiro, 76, cearense que chegou a Niterói (RJ) há 20 anos, graças a uma oficina de arte feita por nordestinos. A paixão foi tanta que ela decidiu aprender a fazer os bonecos de dois metros de altura que colorem muitas regiões daquela parte do país. "Mas meus bonecos são inspirados nos antigos bonecos de Olinda. Não são aqueles feitos de pano, pesados. São feitos de papel machê e colê", enfatiza.  
 
Outro elemento cenográfico muito utilizado no bloco e existe desde a sua fundação são as pernas de pau. Raquel Poti, umas das que utilizava o acessório hoje, afirmou que a comunidade do bloco se sustenta através da relação dentro e fora do bloco. "A gente vive numa cidade que está muito sozinha, cada um vivendo dentro do seu quadrado. A proposta do projeto é que a gente viva mais em conjunto, mais verdadeiramente. Todos e todas são bem-vindos. É uma brincadeira para toda família", conta. 
 
Wagner Cardoso e a mulher Jade levaram o filho de 1 ano e 4 meses pela primeira vez o bloco. "A rádio hoje em dia toca música ruim, então, é saudável as pessoas irem buscando e peneirando o que gosta e o não gosta de ouvir". 
 
Curtindo a folia estavam as irmãs sul coreanas So Young Kim, 35, e Sora Kim, 30, que estão no Brasil pela terceira vez. "Um amigo brasileiro que indicou este bloco. A gente gosta muito de samba, mas como já vamos na Sapucaí na segunda à noite, queríamos um bloco mais de rua", contou So Young. Elas são tão fãs do ritmo que já montaram em Seul um bloco de samba e um de forró.  
 
A indicação serviu também para as amigas noivinhas curitibanas que vieram pela primeira vez ao Rio no Carnaval. Elas souberam do bloco por indicação de amigos cariocas no Whatsapp. "Nossos amigos nos indicaram e gostamos", disse Fernanda Buzetti, 36 anos. 
 
Do outro lado da história, estava o músico e vocalista que entre um bailado e outro, ouve de seu público um "Fora Temer! Diretas Já". Geraldo explica que o bloco é político e que a arte é política em sua essência. "Todo mundo tem sua ideologia. Não existe isso de não ter. E a gente se posiciona por um mundo melhor, defendendo aquilo que a gente acredita: a liberdade, o direito de poder exercer uma livre expressão e claro, a diversidade em todos os sentidos", revelou.