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Blocos de rua

Primeiro bloco oficial de 2017 no Rio tem crítica a Trump, Pezão e Cunha

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, no Rio

11/02/2017 16h02

Foliões não perdoaram o presidente americano, Donald Trump, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha na abertura oficial do Carnaval do Rio, com o desfile do bloco Desliga da Justiça, na manhã deste sábado (11), na Gávea, zona sul da cidade. Os três políticos ganharam críticas bem-humoradas dos frequentadores do bloco.

O coordenador de marketing Thiago Vanrelote, de 32 anos, chamou a atenção ao se juntar com cinco amigos – que interpretaram mexicanos – para satirizar o novo mandatário dos Estados Unidos e sua intenção de construir um muro em toda a fronteira com o vizinho México. "A Califórnia é nossa, tem que liberar", gritavam os "mexicanos" de mentirinha atrás de um muro feito de pano. "Fizemos um brainstorming pelo aplicativo de conversas e achamos que o muro de pano seria a melhor opção, mas pensamos antes em fazer de isopor ou papelão", explicou Thiago com seu ‘marketenês’. "É um deboche dessa ideia maluca de construir um muro e está fazendo o maior sucesso com a galera", completou ele, que não parava de posar para fotos durante o bloco.

Na pele do Homem-Aranha, Rodrigo Marques usou uma frase do herói para chamar atenção de Pezão - Douglas Shineidr/UOL - Douglas Shineidr/UOL
Na pele do Homem-Aranha, Rodrigo Marques usou uma frase do herói para chamar atenção de Pezão
Imagem: Douglas Shineidr/UOL
O tom de crítica continuou com o professor Rodrigo Marques, de 30 anos. Vestido de Homem-Aranha, ele acrescentou o governador do Rio numa frase do super-herói: "Governador, grandes poderes trazem grandes responsabilidades", alertando para a crise que o estado atravessa, com pagamentos atrasados a servidores e o não pagamento do décimo-terceiro salário de 2016, sem falar na cassação do mandato dele – que está recorrendo da decisão – nesta semana por supostamente dar isenção fiscal a empresas que financiaram sua campanha em 2014. "Resolvi unir essa situação do estado do Rio com a frase do herói para fazer uma crítica social, para trazer para a realidade que estamos vivendo, de muita corrupção", explicou Rodrigo, que mora em Niterói, na região metropolitana.

"Só mesmo cerveja no lugar do soro para aguentar esses picaretas do Congresso", diz César Teixeira - Douglas Shineidr/UOL - Douglas Shineidr/UOL
"Só mesmo cerveja no lugar do soro para aguentar esses picaretas", diz César Teixeira
Imagem: Douglas Shineidr/UOL
O analista de sistemas César Teixeira, de 65 anos, fez graça com o fato de Eduardo Cunha afirmar, em depoimento ao juiz da operação Lava-Jato, Sérgio Moro, que está com um aneurisma. "Isso é mais uma armação dele. Só mesmo cerveja no lugar do soro para aguentar esses picaretas do Congresso", riu Teixeira, fantasiado de paciente de hospital e com um adesivo de "vai que cola" numa ressonância magnética da cabeça pendurada ao corpo. A mulher dele, a boleira Vera Soares, foi de enfermeira para trocar o "soro" etílico.

Super-heróis e mannequin challenge

Como o bloco presta homenagem aos super-heróis, a maioria dos frequentadores foi vestida como personagens das histórias em quadrinhos. As mulheres, em peso, preferiram a Mulher Maravilha. A advogada Juliana Nogueira, de 32 anos, justificou. "É a mais fácil, a mais animada e mais confortável também. Faz sucesso também com os homens", emendou ela, que curtiu com mais quatro amigas com as fantasias compradas na Saara, região de comércio popular do Rio.

11.fev.2017 - Daniel Amaro e seus amigos escolheram o Homem-Aranha porque ajuda nas cantadas: "Ninguém volta no zero a zero" - Douglas Shineidr/UOL - Douglas Shineidr/UOL
Daniel Amaro e seus amigos vão de Homem-Aranha porque ajuda nas cantadas: "Ninguém volta no zero a zero"
Imagem: Douglas Shineidr/UOL
Os homens também curtem a fantasia e alguns ostentavam sua versão Mulher Maravilha carnavalesca. Mas a de Homem-Aranha fez mais sucesso. O coordenador de restaurante Daniel Amaro, de 24 anos, jurou que nem o forte calor que fez na manhã deste sábado atrapalhou a festa de Momo. "A roupa é antitérmica. Faz sucesso, com todo mundo pedindo para tirar foto, e vamos soltando as cantadas. Quanto mais zoamos, mais pegamos intimidade e rola a pegação. Ninguém do grupo volta no zero a zero", comemorou o jovem, que vai com o grupo de amigos a 15 blocos até o fim do Carnaval.

Outra fantasia que chamou a atenção foi a do grupo de amigos do professor de arte Leonardo Garcia, 42 anos. Ele idealizou e criou uma homenagem aos Caça-Fantasmas. "Nosso kit é todo feito com material reciclado e pesa pouco, uns três quilos. Tem vaso de planta, embalagem de refrigerante e de produtos de limpeza", detalhou.

O bloco toca, em ritmo de samba, músicas de vários gêneros musicais e sua banda se apresenta no alto de um trio elétrico com a bateria na parte de baixo. Em dois momentos, os vocalistas convocaram a multidão para aderir ao mannequin challenge, febre da internet. "Para quem não sabe é aquela velha brincadeira de estátua!", explicou a cantora, prontamente atendida, claro, pelos foliões que lotaram a praça Santos Dumont.