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Cobra-do-mar-pelágio pode matar 100 homens, mas você dificilmente verá uma

Reprodução/Wikimedia commons
Imagem: Reprodução/Wikimedia commons

Taís Ilhéu

Colaboração para o UOL, em São paulo

25/09/2020 13h49

Resumo da notícia

  • Vez ou outra, publicações nas redes e reportagens alertam para o perigo da cobra-do-mar-pelágio, uma das espécies de serpente marinha mais venenosas
  • A cobra é, de fato, muito venenosa, mas não é necessariamente uma preocupação para quem vai às praias brasileiras
  • Além de viverem nos oceanos Pacífico e Índico, essas cobras de "barriga amarela" evitam praias, águas rasas e contato com humanos
  • No entanto, as mudanças climáticas podem interferir drasticamente no rumo das espécies de cobras marinhas

Vez ou outra aparecem publicações e reportagens alertando para os perigos da cobra-do-mar-pelágio (Hydrophis platurus) - uma serpente marinha que pode medir até 90 centímetros e é reconhecida pela "barriga" amarela -, especialmente em ocasiões como janeiro de 2018 quando representantes dessa espécie foram parar em praias da Califórnia. A cobra, advertem os textos, é uma das mais venenosas do mundo e uma única picada poderia matar até cem homens adultos de uma vez.

Tudo verdade. O que talvez não seja mencionado é que brasileiros dificilmente - para não dizer nunca - vão se deparar com uma dessas serpentes nas praias do nosso litoral. Isso porque não apenas essa, como serpentes marinhas no geral, habitam apenas as águas do Pacífico e Índico, e não são adaptadas às águas geladas do Oceano Atlântico, que dificultam entre outras coisas sua digestão de alimentos.

No caso específico da cobra-do-mar-pelágio, só é possível encontrá-la na América em regiões que correspondem da costa da Califórnia (EUA) até a do Equador. Para além do continente americano, elas também distribuem-se próximas ao Japão, na Ásia, e chegam até a Índia.

Apesar disso, a ocorrência dessa espécie em praias movimentadas, como aconteceu em Newport, na Califórnia, é um ponto bastante fora da curva, como explicou ao UOL BICHOS o biólogo Claudio Machado, do canal Papo de Cobra. Segundo ele, não é impossível encontrar uma cobra-do-mar-pelágio em praias ou águas rasas, mas é pouco comum, já que elas costumam viver em grandes grupos e em alto mar: "Quando procuram terra, geralmente são praias desertas".

Em um vídeo no seu canal, Claudio conta que essas cobras são consideradas as mais adaptadas à água de todas as espécies de serpentes marinhas, com características como o corpo achatado para facilitar o nado e um pulmão que permite que elas armazenem muito ar e não precisem retornar muitas vezes à superfície. Até mesmo seu dorso preto tem uma função: ajudar na absorção de calor para que elas regulem a temperatura corpórea.

Sendo uma cobra tão marinha assim, ela encontra, inclusive, dificuldades para se locomover em terra, já que sua anatomia não é própria para isso. A maior incidência de contato entre elas e humanos acaba, por fim, sendo com pescadores, e mesmo entre eles a taxa de acidentes com o bicho não é tão grande.

Isso porque um detalhe importante sobre a cobra-do-mar-pelágio é que, apesar de altamente venenosa, com neurotoxinas que servem para paralisar suas presas, essa não é uma serpente violenta e dificilmente buscará confronto com pessoas. Elas costumam, inclusive, recorrer a técnicas como os "botes secos", sem liberação de veneno, para espantar humanos.

Mesmo assim, é claro, melhor não arriscar a sorte: a indicação é não se aproximar caso encontre com uma dessas. "O recomendado é não fazer contato. Esse é um padrão geral para serpente. Os acidentes acontecem quando você acaba tocando o animal", explica o biólogo do Papo de Cobra.

Por fim, um outro ponto de atenção é o quanto as mudanças climáticas estão influenciando na vida da cobra-do-mar-pelágio e podem, inclusive, colocá-la em contato com humanos. A especulação de biólogos americanos é que o episódio das serpentes na praia de Newport deva-se ao aquecimento das águas, e antecipam que o aquecimento global pode, sim, expandir as áreas de cobras marinhas.

O biólogo Claudio Machado especula que não é de se descartar a possibilidade que essas cobras venham, no futuro, parar no Atlântico em função do aumento das temperaturas dos oceanos: "É difícil afirmar sem estudar mais, mas com essas mudanças climáticas seria possível. Estamos brincando não só com a nossa espécie, mas com todas as outras do planeta".