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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Câncer: conheça classe de medicamentos que está revolucionando tratamento

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Imagem: iStock

Colaboração para o VivaBem

02/08/2021 04h00

Uma nova classe de medicamentos, os "anticorpos conjugados à droga" (antibody drug conjugated), vem revolucionando o tratamento contra o câncer e promovendo resultados muito promissores em pacientes com tumores muito avançados e refratários a diversos tratamentos.

Essa nova classe de remédios, segundo as maiores autoridades do mundo da área, terá uma ação ainda mais ampla e poderosa que as imunoterapias atuais, e está sendo usada isoladamente ou em combinação com outros agentes, como a própria imunoterapia e drogas alvos dirigidas.

Os anticorpos conjugados à droga têm um mecanismo de ação único: o anticorpo administrado no ser humano é capaz de atingir certas células tumorais, pela ligação a um receptor superexpresso no tumor e não nos tecidos normais. Após esta ligação ser feita, libera um agente letal somente dentro da célula tumoral. Além de promover grande eficácia com elevadas taxas de resposta, seu perfil de efeitos colaterais é menor, pois o quimioterápico não atinge células saudáveis em grande concentração.

Popularmente, esses medicamentos são chamados de "Cavalo de Troia", em alusão ao grande cavalo de madeira construído pelos gregos durante a Guerra de Troia, como uma estratégia decisiva para a conquista da cidade fortificada. Tomado pelos troianos como um símbolo de vitória, o cavalo foi carregado por eles para dentro das muralhas, sem saberem que em seu interior se ocultava soldados inimigos que, à noite, saíram do cavalo, dominaram as sentinelas e possibilitaram a entrada do exército grego, levando a cidade à ruína.

O primeiro destes agentes, aprovado para tratar o câncer de mama do tipo her-2 positivo (que afeta 30% das pacientes), é chamado T-DM1 e indicado para o tratamento de pacientes com doença metastática previamente tratadas com trastuzumabe ou como tratamento preventivo para evitar metástase naquelas pacientes com tumores localmente avançados e que não tiveram resposta completa ao tratamento medicamentoso pré-operatório.

Em outro tipo de câncer de mama, chamado triplo negativo, é usado um outro anticorpo conjugado à droga, chamado sacituzumabe govitecan, que se liga ao receptor do tumor chamado Trop 2 e libera um quimioterápico muito tóxico ao tumor, o SN-38. No estudo que levou à aprovação desta substância pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula medicamentos nos EUA, 108 pacientes com câncer de mama metastático triplo negativo que receberam pelo menos dois tratamentos anteriores para doença metastática, e cujo prognóstico era sombrio, apresentaram taxa de resposta de 33%.

Esse medicamento tem sido avaliado também nos tumores de pulmão, pâncreas e próstata. Mais recentemente, um estudo incluindo 608 pacientes com câncer de bexiga muito avançado, que não respondiam mais à quimioterapia nem à imunoterapia, demonstrou que um outro anticorpo conjugado à droga, chamado enfortumabe vedotina, que se liga ao receptor do tumor chamado nectina 4 e libera um quimioterápico que bloqueia a proliferação do tumor, reduziu o risco de progressão ou morte pela doença em 38%.

Em tumores hematológicos, a história não é diferente. Recentemente, o FDA aprovou o anticorpo conjugado à droga chamado loncastuximab tesirine-lpyl para o tratamento de pacientes com diagnóstico de linfoma B de grandes células, que não tiveram sucesso em vários outros tratamentos e cujas opções eram muito limitadas. Neste estudo, incluindo 145 pacientes, a taxa de reposta com essa mova medicação foi de 48%, sendo que 24% dos pacientes apresentaram desaparecimento completo das lesões tumorais.

No momento, 11 destas novas medicações foram aprovadas pelo FDA para diversas indicações, incluindo os tumores mais comuns. Agora que se sabe que a estratégia é vencedora, novas indicações vão surgir para ajudar cada vez mais pacientes com câncer no processo de cura, controle, e melhora qualidade de vida.