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Clitóris: 11 coisas que todo mundo deveria saber sobre esse órgão especial

Clitóris: uma aula de anatomia de um órgão bem especial - Priscila Barbosa/Universa
Clitóris: uma aula de anatomia de um órgão bem especial Imagem: Priscila Barbosa/Universa

Luiza Sahd

Colaboração para Universa

05/12/2019 04h00

"O clitóris é feito de propósito puro. É o único órgão do corpo projetado exclusivamente para o prazer. Trata-se de um feixe de nervos: 8.000 fibras nervosas, para ser mais precisa. Essa é a maior concentração de fibras nervosas que podemos encontrar em qualquer outro lugar do corpo humano, masculino ou feminino, incluindo as pontas dos dedos, lábios e língua — e é o dobro, o dobro, o dobro (!) do número de fibras encontradas no pênis. Quem precisa de uma arma branca quando se tem uma semi-automática?".

Com essas palavras, a escritora e jornalista científica Natalie Angier detalha parte da vastidão de significados que o clitóris, um ilustre desconhecido dos livros de ciência até os dias de hoje, representa.

A parte visível deste órgão — chamada glande — fica na junção frontal dos pequenos lábios, acima da abertura da uretra. O "botãozinho" de meio centímetro que enxergamos no topo da abertura da vagina (e que chega a medir cerca de 2 centímetros quando fica ereto) é apenas a ponta de um iceberg: em sua totalidade, o clitóris varia de tamanho de pessoa pra pessoa, mas costuma ter bulbos com 10 centímetros de comprimento de cada lado da glande, por dentro da vagina. O tal orgasmo interno (ou vaginal) acontece geralmente por meio do estímulo da parte interna do clitóris.

Por que tanto segredo?

Para entender por que este órgão sexual passou tanto tempo no obscurantismo, é preciso ter em conta algumas questões sociais e políticas, como explica a psicanalista, doula e terapeuta orgástica Mariana Stock, fundadora do Prazerela, núcleo de sexualidade positiva e bem-estar da mulher.

"Vivemos em uma sociedade que ainda é extremamente misógina, feita por homens e para homens. Dentro desse contexto, as mulheres foram criadas para serem coadjuvantes de suas próprias vidas, educadas para apoiar, para servir e reproduzir. Por isso, faz muito sentido que nossa maior ferramenta de sexualidade tenha sido reprimida por tantos séculos", explica, ressaltando que a primeira tomografia de um clitóris entumecido (ereto) de que temos notícia aconteceu somente em 1998 — embora o clitóris fosse conhecido por anatomistas desde o século II a.C.

Para a especialista, a sexualidade positiva, prazerosa e potente é a antítese do que um sistema patriarcal e capitalista propõe. Idealmente, se espera que uma mulher seja servil, dócil e delicada. A prova de que o conhecimento e o manejo do prazer feminino ainda é visto como uma ameaça ao sistema são as sociedades que ainda praticam mutilação genital compulsória em milhares de mulheres ao redor do mundo.

"O fato de que esse órgão tenha passado tanto tempo em uma posição obsoleta mesmo no ensino da medicina, sem ninguém falar sobre ele, fez com que a geração anterior — nossas mães, tias e avós — jamais tivessem ideia do que era o clitóris realmente. Só agora estamos percebendo que o clitóris não é uma hipótese ou uma fantasia ", completa Stock.

Das trevas à luz

Na última década, a reboque das fortes mudanças do papel da mulher na sociedade, a ciência voltou a se debruçar sobre estudos sobre o órgão do prazer feminino e constatou que, para além de promover o tesão, o clitóris também é responsável por facilitar a reprodução humana.

Uma pesquisa conduzida pelo médico britânico Roy Levin publicada na revista Clinical Anatomy revelou que as mudanças causadas pela estimulação do clitóris ajudariam o corpo feminino a receber os espermatozóides, facilitando a fertilização do óvulo. Os cientistas concluíram que a estimulação do órgão promove o aumento do fluxo sanguíneo vaginal, evitando dores durante a penetração, aumentando a lubrificação e elevando temperatura e níveis de oxigênio na vagina. Nesse processo, o colo do útero se move, facilitando a fecundação.

Na esteira de tantas descobertas e debates inéditos sobre o clitóris, um estudo de grande escala sobre prazer feminino, realizado com mulheres de 18 a 94 anos, deu origem à plataforma OMGyes, que disponibiliza tutoriais sobre como manipular o clitóris da forma mais eficiente possível — e com embasamento científico. "Embora a maioria de nós manipule o clitóris da maneira como aprendemos intuitivamente, existem muitas outras formas de estimulá-lo. É fascinante ver todas as técnicas descritas em pesquisas científicas, porque isso nos ajuda não só a entender melhor do que gostamos, mas também a orientar nossos parceiros para explorar possibilidades eróticas que nunca experimentamos e que podem ser ainda mais agradáveis", explica Claire Kim, gerente de conteúdo do OMGyes.

Citóris - Manual de navegação

Aqui, reunimos 11 dicas práticas para aproveitar todo o potencial orgástico dessa maravilha chamada clitóris

1. A prática leva à perfeição

"Trabalhando com terapia orgástica, notamos que os clitóris da maioria das mulheres são normalmente super regredidos por falta de toques e estímulos: a glande fica bem lá pra dentro, a gente mal vê", explica Mariana Stock. A boa notícia é que, assim como acontece quando você malha seus bíceps na academia, um clitóris estimulado com frequência aumenta de tamanho e de potencial. Aqui, a dica da especialista é incluir a manipulação do clitóris em nossas rotinas de autocuidado, trazendo o órgão para fora dos pequenos lábios vaginais, segurando delicadamente pelo pescocinho de sua glande e fazendo movimentos suaves para que ele se expanda e fique ereto. Em outras palavras: quanto mais orgasmos você tiver, mais fáceis ficam os próximos.

2. Vibrador é aliado, não inimigo

"Vibrador vicia?" é uma das perguntas que Stock mais escuta em seus atendimentos. Ela explica que tudo o que proporciona prazer ao corpo pode viciar (chocolate, vinho, drogas), mas que o medo de ficar viciada em vibrador não deveria ser maior do que o medo de desconhecer a própria sexualidade.

Uma dica para não ficar dependente do acessório — já que ele produz movimentos que nossos dedos não conseguem repetir — é começar o autoestímulo com vibrador e terminar com as mãos, usando essa ferramenta como uma faísca de excitação, já que ele é um grande facilitador de orgasmos.

3. Antes de entrar, bata na porta

Um dos tutoriais do OMGyes mostra que os primeiros centímetros da entrada da vagina são uma região geralmente subestimada e negligenciada no sexo e na masturbação. É por essa área que estimulamos a parte invisível do clitóris. Sozinha ou acompanhada, é interessante se deter por alguns minutos explorando essa zona com movimentos de pressão mediana: 40% das mulheres que provaram essa técnica disseram que a penetração profunda ficou mais prazerosa depois e 25% relataram orgasmos mais fortes e intensos depois de estimular as bordas da vagina com mais carinho.

4. Use os dedos com sabedoria

Agora que você sabe que a entrada da vagina é o caminho da felicidade para estimular a parte invisível do clitóris, aproveite para inserir dedos que sabem por onde navegar em todas as etapas do sexo. Durante o sexo oral, por exemplo, os dedos podem ser ótimos aliados para pressionar a entrada da vagina sem tentar penetrações mais profundas antes da hora. Você também pode usar os dedos enquanto usa vibradores ou bullets para ampliar o prazer nessa zona.

5. Quanto mais quente (e molhado), melhor

A lubrificação é um quesito fundamental para que toda a movimentação ao redor do clitóris seja prazerosa. Muitas vezes, a lubrificação natural ou a saliva são insuficientes para manter a zona quente e úmida durante os estímulos. Nesse caso, experimente lubrificantes à base de água e note os milagres que eles podem fazer pelo aumento da sua excitação.

6. Estímulo mais amplo = orgasmos mais intensos

Uma das formas de contemplar o clitóris inteiro (parte externa e interna) durante sua estimulação é pressionar a vulva contra superfícies mais amplas, com movimentos circulares, para enviar um fluxo de sangue maior ao órgão.

Para isso, você pode trocar aquele toque de um dedo na glande do clitóris pelo toque da mão inteira na região. O mesmo serve para a língua: ao invés de usar a ponta da língua, o ideal é usar a língua inteira, do mesmo jeito que se usa para lamber um sorvete. O mesmo princípio serve para pênis ou dildos: a lateral deles é maior e mais abrangente do que apenas a ponta para estimular a parte interna do clitóris em sua totalidade.

7. Sexo verbal não faz seu estilo?

Quando está todo mundo pelado, é comum que a tensão paire no ar: seja a do cara preocupado em manter a ereção, seja a da mulher com mil complexos estéticos. Tudo o que puder ser conversado sobre sexo antes desse desfecho é de grande ajuda para construir uma maior afinidade sexual.

"É uma pena que a maioria das pessoas tenha coragem de fazer sexo sem muita intimidade mas não tenha coragem de conversar sobre sexo com o parceiro", provoca Stock. Para a especialista, o papo sexual aumenta — e muito — a chance de que a transa seja mais prazerosa para todos os envolvidos.

Antecipar o papo e comentar aquilo o que adoramos ou não gostamos na cama é uma prática que pode evitar surpresas embaraçosas e, além disso, serve para apimentar o encontro. Um bom papo sobre sexo pode favorecer transas melhores e diminuir a tensão natural das primeiras vezes.

8. Você suporta mais prazer do que imagina

Muitas de nós estamos acostumadas a orgasmos curtos quando comparados aos que experimentamos em terapias orgásticas. A diferença é que, normalmente, paramos os estímulos quando chegamos no auge do prazer, viramos para o lado e descansamos. Uma das estratégias dos terapeutas orgásticos é manter o estímulo quando chegamos ao orgasmo — daí saem os orgasmos múltiplos, que podem se prolongar por minutos se usamos respiração profunda e consciente durante as descargas de prazer. Experimente prolongar seus orgasmos mesmo que pareça que "vai doer" e surpreenda-se.

9. Acumule combustível

Uma técnica muito conhecida — e lamentavelmente pouco praticada — para intensificar os orgasmos clitorianos é pausar os estímulos segundos antes de gozar. Dessa forma, sua excitação não volta para a estaca zero, mas a carga de excitação se acumula para a próxima sessão de estímulos. Isso obviamente demanda mais tempo e autocontrole do próprio corpo, mas quanto mais "pausas" antes do orgasmo a pessoa puder acumular, maior será a descarga de energia quando ela finalmente gozar.

10. Vire o disco

Para uma sessão inesquecível de orgasmos, saiba que não adianta ficar tocando sempre a sua parte favorita do corpo. Depois de gozar, a zona que foi intensamente estimulada não funciona tão bem para novos orgasmos. Nesse caso, a melhor ideia é recomeçar a exploração de outras zonas erógenas até achar uma que volte a te excitar muito. Se você gozou estimulando o lado esquerdo do clitóris, por exemplo, experimente voltar ao jogo estimulando o lado direito.

11. Quantidade não é sinônimo de qualidade

Um bom encontro sexual (mesmo que seja de você consigo mesma) demanda tempo, dedicação e tranquilidade para que o famigerado orgasminho passe a ser um orgasmão. "A teoria ainda é muito pequena diante da imensidão da experiência. A mulher que passa a gozar plenamente pode notar essa potência passando a operar em todas as esferas da vida: ela não aceita mais migalhas em nenhum aspecto", conclui Stock.

Para saber mais sobre o assunto:

Livro - Vagina, uma biografia

Naomi Wolf