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Dr. Google: câmera do celular ajuda a achar 288 problemas de pele... branca

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Imagem: Thinkstock

Roseli Andrion

Colaboração para Tilt

27/05/2021 04h00Atualizada em 07/06/2021 20h30

O Google trabalha com um novo recurso de inteligência artificial que usa a câmera do celular para ajudar a identificar possíveis problemas de pele (como verrugas, cistos e lipomas), de unhas e cabelos. A tecnologia demonstrou bons resultados ao reconhecer 288 enfermidades. Mas ainda existe um grave problema: ela é mais precisa com peles brancas, o que prova a falta de diversidade no conjunto de dados que ela se baseia.

Detalhes sobre como a inteligência artificial funciona foram divulgados pela empresa na última terça-feira (18), durante o seu evento global Google I/O. A companhia espera ter um piloto pronto ainda neste ano.

A IA na prática

O funcionamento do recurso vai ser bem simples: quando você tiver algo suspeito na pele, nas unhas ou nos cabelos, você precisa tirar três fotos da área com a câmera do celular. Na sequência, deverá responder algumas perguntas relacionadas pela plataforma. A ferramenta, então, vai apontar quais podem ser as opções — com base em fatores como idade, tipo de pele, sexo e raça, entre outros.

Para cada problema detectado, o recurso vai mostrar informações revisadas por dermatologistas e respostas para perguntas comuns, bem como imagens semelhantes obtidas na internet.

A novidade tem como base o sistema de aprendizado profundo (deep learning) que vem sendo desenvolvido há três anos e foi apresentado pelo Google em um artigo publicado na Nature Medicine há um ano. O documento aponta que o recurso foi capaz de identificar 26 problemas de pele comuns com a mesma precisão que os dermatologistas.

No mês passado, outra publicação, agora no Jama, mostra que o sistema pode ajudar médicos sem especialização em dermatologia a diagnosticar enfermidades dermatológicas.

Para preparar a tecnologia, a equipe responsável treinou o sistema com milhões de imagens de pele saudável e de áreas afetadas com patologias dermatológicas diversas, bem como com 65 mil imagens de problemas já diagnosticados.

Testada em cerca de mil imagens de males de pele, a ferramenta identificou o problema corretamente nas três primeiras sugestões em 84% das vezes. Quando consideradas todas as opções apresentadas, o índice de acerto foi de 97%.

Imprecisão com peles negras

Apesar dos benefícios listados acima, uma reportagem da "Vice", citando dados do artigo publicado na revista científica Nature Medicine, ressalta que a ferramenta conta com um conjunto de dados pouco diverso no que diz respeito à tonalidade de pele, o que pode levar a imprecisão nos resultados entre pessoas com pele diferente de branca.

Isso acontece porque, de acordo com a publicação, menos de 4% do conjunto de dados usado para treinar o sistema era composto por pessoas de pele escura. A maioria era composta por tonalidades de pele branca. Na prática, isto pode dar falsos indicadores de doença ou simplesmente não obter um bom grau de precisão.

Em resposta, o Google informou que existe um problema de diversidade e que a companhia pretende refinar o algoritmo ao lançar a solução para o público.

Na União Europeia, a ferramenta já recebeu a classificação Class I, que indica que se trata de um dispositivo médico de baixo risco. Por enquanto, o recurso ainda não foi avaliado pela Administração de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration - FDA) dos EUA.

Google não faz diagnósticos

Em um post publicado no blog da companhia, Karen DeSalvo, do Google Health, diz que o buscador recebe cerca de 10 bilhões de perguntas sobre problemas dermatológicos todos os anos. Porém, a empresa reforça que a ideia não é fazer diagnósticos médicos.

"Com tanta informação, o paciente se tornou mais exigente. Isso é bom para nós, médicos, porque nos faz sempre buscar novos conhecimentos", diz a dermatologista Carolina Andriolo."A inteligência artificial pode agregar à medicina, mas a consulta com um especialista é essencial para o diagnóstico e para o planejamento da conduta a ser seguida", reforça a médica.