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Sonda Parker Solar atinge recorde de 532 mil km/h e "passa raspando" no Sol

Sonda solar Parker, da Nasa - Divulgação/NASA
Sonda solar Parker, da Nasa Imagem: Divulgação/NASA

Roseli Andrion

Colaboração para Tilt

05/05/2021 16h08Atualizada em 17/10/2021 09h23

A espaçonave Parker Solar Probe, da Nasa, passou quase raspando pelo Sol na semana passada e chegou a praticamente tocar a atmosfera externa do astro. Além disso, a sonda ainda quebrou dois recordes - obtidos anteriormente por ela mesma -: o de velocidade e o de distância da estrela.

Desenvolvida para estudar o Sol de perto, a Parker Solar tem aproximadamente o tamanho de um carro. Cada vez que passa pelo astro, ela se aproxima mais: agora, chegou a 10,4 milhões de quilômetros de distância - uma extensão ínfima em termos espaciais. Isso é mais perto do que qualquer outra espaçonave já conseguiu.

Essa aproximação só é possível porque a sonda usa o empuxo gravitacional de Vênus para pegar impulso. E, sempre que faz isso, ganha velocidade. Desta vez, atingiu 532 mil quilômetros por hora, de acordo com a Nasa, e se tornou o objeto mais rápido já construído pelo homem. Com essa velocidade, a espaçonave poderia dar 13 voltas ao redor da Terra em uma hora.

Os recordes obtidos pela Parker Solar na semana passada devem ser quebrados ainda neste ano, quando a espaçonave passar novamente por Vênus. A sonda deve ficar em operação até 2025 e os cientistas preveem que, até lá, ela atinja os 690 mil quilômetros por hora.

Emissões de rádio naturais em Vênus

E, por falar em Vênus, a sonda esteve muito próxima do planeta quando o sobrevoou em julho de 2020: foram apenas 832 quilômetros de distância da superfície. Isso quer dizer que a Parker Solar efetivamente entrou na densa atmosfera de Vênus, mais precisamente em sua camada mais alta, a ionosfera.

A essa distância, a espaçonave conseguiu captar o que parecem ser emissões de rádio naturais. Um estudo publicado nesta semana no Geophysical Research Letters detalha a descoberta.

Um dos instrumentos da Parker Solar, o FIELDS, que investiga campos magnéticos, captou sete minutos de sinais de rádio naturais de baixa frequência. "Fiquei muito animado com esses novos dados de Vênus", diz Glyn Gollison, líder do estudo e cientista do Goddard Space Flight Center, da Nasa. "No dia seguinte, acordei e pensei: 'Meu Deus, eu sei o que é isso!'".

Segundo Gollison, os ruídos são muito semelhantes aos captados na ionosfera das luas de Júpiter pela sonda Galileo em 2003. Ele e sua equipe já compararam os sinais com os obtidos pela Pioneer Venus em 1992, quando o ciclo solar estava no máximo. Agora, puderam relacioná-los com as informações coletadas pela Parker Solar no mínimo do ciclo solar - o momento em que o Sol está menos ativo.

E a conclusão foi surpreendente: a ionosfera de Vênus fica mais fina quando o ciclo solar atinge a seu mínimo. Ou seja, o planeta imita o efeito que ocorre no Sol. "Como várias missões confirmam o mesmo resultado, temos cada vez mais certeza de que o afinamento é real", avalia Robin Ramstad, coautor do estudo e pesquisador do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da Universidade do Colorado em Boulder.

Mais estudos sobre Vênus

Agora, os cientistas querem usar as informações coletadas pela sonda para estudar Vênus mais detalhadamente. Eles esperam que os novos dados ajudem a entender como o planeta se transformou em uma bola coberta por gases quentes, mesmo sendo tão semelhante à Terra em tamanho e estrutura.

Como o ambiente de Vênus é muito hostil, os pesquisadores têm muita dificuldade para estudá-lo. Com as informações obtidas agora pela Parker Solar, foi possível compreender como a atmosfera de Vênus muda ao longo dos 11 anos do intervalo de atividade do Sol: o campo magnético do astro faz os polos norte e sul do planeta se alternarem a cada ciclo.

Essas descobertas são resultado de décadas de coleta de dados. Apesar de o principal objetivo da Parker Solar ser se aproximar do Sol, os sobrevoos que a sonda faz em outros planetas do sistema solar trazem muitas informações e demonstram que ainda há muitos mistérios a descobrir sobre eles.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que dizia uma versão anterior deste texto, no segundo parágrafo, a sonda Parker Solar chegou a 10,4 milhões de quilômetros de distância do Sol, e não 6,5 milhões de quilômetros. O erro foi corrigido.