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Repolho cósmico: conheça a horta dos astronautas na Estação Espacial

Plantação de pak choi (repolho chinês) a bordo da Estação Espacial Internacional - Mike Hopkins/Nasa
Plantação de pak choi (repolho chinês) a bordo da Estação Espacial Internacional Imagem: Mike Hopkins/Nasa

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

01/04/2021 11h31

O astronauta Mike Hopkins, que vive na ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês) desde novembro do ano passado, chamou atenção nesta semana ao postar, nas redes sociais, fotos de uma pequena plantação. Ele está cultivando no espaço um tipo de repolho chinês, chamado pak choi (também conhecido como bok choi), que se desenvolveu bem e até floresceu.

A pequena horta foi iniciada em fevereiro como parte de um experimento chamado Veggie (Vegetable Production System), da Nasa. O objetivo é encontrar formas de alimentar a tripulação da ISS —e de futuras viagens mais longas pelo Sistema Solar— com alimentos frescos mesmo longe da Terra.

"Pare e cheire as flores! Conferindo os pak choi que estou cultivando", escreveu Hopkins. O trabalho também é um pouco terapêutico e uma maneira de lembrar do cotidiano aqui embaixo. "Elas têm a mesma aparência, textura, gosto e cheiro; tudo isso nos lembra da vida na Terra, e essa conexão é boa para nossa saúde mental", diz o astronauta.

Além de se entreter e emocionar, Hopkins está ajudando cientistas a descobrir quão facilmente verduras de folhas verdes crescem no espaço, e se a microgravidade tem algum efeito nos seus valores nutricionais e benefícios à saúde.

Repolhos ao resgate

Para que os vegetais se desenvolvam, a ISS usa um sistema de iluminação LED de cor magenta simulando a luz solar, para guiar o crescimento das folhas na ausência de uma gravidade tão forte quanto a da Terra. A julgar pelo aspecto dos pak choi e suas flores no vídeo de Hopkins, o sistema está funcionando.

A horta espacial pode ser especialmente útil nos planos da Nasa de enviar, nos próximos anos, missões tripuladas para a Lua e Marte —a alimentação de seres humanos durante longas viagens é um dos principais desafios.

A Nasa, aliás, está oferecendo um prêmio de US$ 500 mil (quase R$ 3 milhões na cotação atual) para os norte-americanos que conseguirem desenvolver um sistema de alimentação espacial eficiente e o mais autossuficiente possível.

Uma viagem da Terra até o planeta vermelho leva pelo menos seis meses só de ida —e não há espaço suficiente a bordo das naves para carregar suprimentos alimentícios adequados, muito menos frescos.

"Mesmo que astronautas não consigam correr até o supermercado para comprar produtos frescos, durante uma missão de dois anos até Marte eles poderiam flutuar em um módulo que tem o mesmo cheiro e que se parece com a seção de hortifruti. Isso colocará um sorriso no rosto de qualquer um, fazendo também com que eles sejam mais eficazes em suas atividades principais", acredita Hopkins.

Outros experimentos

Hopkins também está cuidando de um segundo experimento que envolve um "filme" de sementes de alface. Trata-se de um método mais fácil para se usar no espaço: uma folha de polímero solúvel abriga as sementes e basta cortar quantas quiser, colocar no substrato do Veggie e adicionar água para que elas possam germinar.

A atual tripulação da ISS, batizada Expedição 64, também está cultivando radicchios, que já foram até saboreados pelos astronautas no final do ano passado.

O Veggie já teve sucesso com uma variedade de plantas, incluindo três tipos de alface, repolho chinês, mostarda mizuna, couve vermelha russa e flores zínia. Algumas alimentaram os astronautas e outras foram enviadas de volta à Terra para serem analisadas.

Uma das preocupações dos cientistas é com os microrganismos que podem invadir a horta. Mas até agora nenhuma contaminação prejudicial foi detectada.

As flores plantadas no espaço ficaram especialmente famosas quando o astronauta Scott Kelly fez um buquê e o fotografou a bordo da ISS, com a Terra ao fundo, no Dia dos Namorados de 2016.