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E Alcântara? Por que o 1º satélite 100% brasileiro será lançado na Índia?

Foguete indiano que vai lançar o Amazonia-1 - Divulgação/MCTI
Foguete indiano que vai lançar o Amazonia-1 Imagem: Divulgação/MCTI

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

27/02/2021 04h00

Desenvolvido por engenheiros e cientistas brasileiros durante 12 anos, o satélite Amazônia-1 será o primeiro 100% nacional a ser colocado em órbita — a 752 km de altitude em relação à Terra, mais precisamente. Com 640 kg e 2,5 metros de altura, o equipamento vai ser lançado no domingo (28) da Primeira Plataforma de Lançamento do Centro Espacial de Satish Dhawan, na Índia.

Você pode acompanhar no canal oficial no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, mas o voo está programado para 1h54 (de Brasília).

Com isso, o Brasil passará a fazer parte de um seleto grupo de 20 países que são capazes de desenvolver o próprio satélite. O equipamento foi enviado para Sriharikota, no sudeste do país, em dezembro do ano passado.

Mas por que um produto 100% nacional não pode ser lançado do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, um local mundialmente conhecido por sua localização privilegiada?

O que nos falta é foguete

O Brasil não tem um foguete com tamanho suficiente para colocar o Amazônia-1 em órbita, segundo explica o professor Naelton Mendes de Araujo, astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro.

Para cada tipo de foguete, você precisa de uma plataforma de lançamento apropriada para aquele tamanho. "Em Alcântara, temos uma plataforma que pode lançar um foguete do porte do VLS (com 19,7 metros de altura). O foguete que vai pôr o Amazônia-1 em órbita é o Polar Satellite Launch Vehicle (PSLV), foguete indiano de 44,4 metros", explica.

Além do Amazônia-1, a missão PSLV-C51 vai levar outros 18 satélites. Segundo o especialista, "não é interessante trazer um foguete lá da Índia para cá e construir uma plataforma nacional só para um único lançamento".

Alcântara tem localização privilegiada

Construído em 1983, o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, é mundialmente conhecido por sua localização privilegiada, próxima da linha do Equador.

A base é cobiçada, porque fica num ponto estratégico. Voos que saem dali rumo à órbita equatorial (onde o satélite artificial ou natural orbita baixo, na altura da linha do Equador) gastam até 30% menos combustível em relação a outras bases pelo mundo.

Os custos mais baixos são um diferencial para voos com cargas maiores —por exemplo, um foguete com grande quantidade de satélites —como o que levará o Amazônia-1.

O potencial da base, no entanto, foi pouco explorado até agora, porque havia uma limitação para o uso do local por outros países. Em novembro de 2019, o Senado aprovou o AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas), que permite aos Estados Unidos lançarem satélites com fins pacíficos a partir de Alcântara —o que poderia trazer mais investimentos na área.

Em janeiro do ano passado, a AEB (Agência Espacial Brasileira) começou a negociar com empresas estrangeiras que demonstraram interesse em utilizar o Centro de Lançamento de Alcântara para o lançamento de microssatélites. No entanto, isso ainda não avançou muito.

O que o Amazônia-1 vai fazer lá em cima?

Após entrar em órbita o Amazônia-1 irá gerar imagens do planeta a cada cinco dias e, sob demanda, poderá fornecer dados de um ponto específico em dois dias.

De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as imagens ajudarão na fiscalização de áreas que estejam sendo desmatadas, bem como na captura de imagens onde haja maior ocorrência de nuvens.

O novo satélite possibilitará também o monitoramento da região costeira, de reservatórios de água e de florestas (naturais e cultivadas). Há, ainda, a possibilidade de uso para observações de possíveis desastres ambientais.

A Missão Amazônia pretende lançar, em data a ser definida, mais dois satélites de sensoriamento remoto: o Amazônia-1B e o Amazônia-2.