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Mais gorjetas e pedidos: como apps ajudam entregadores a sobreviver à crise

Fábio Vieira/FotoRua
Imagem: Fábio Vieira/FotoRua

Helton Simões Gomes

De Tilt, em São Paulo

07/05/2020 04h00

Durante a pandemia, 46% dos entregadores de aplicativos de delivery perderam renda. Apesar de alto, o índice é menor do que a fatia da população brasileira que sentiu no bolso a crise de saúde do coronavírus, Afinal, 62% dos brasileiros viram seus rendimentos minguarem, apontou pesquisa do Instituto Locomotiva e obtida com exclusividade por Tilt.

A pesquisa traz outro contraste importante. Durante a pandemia, um quarto dos entregadores aumentou sua renda.

"Eu queria o retrato mais direto e preciso da base dos entregadores. E os números me surpreenderam. É a contramão do que está acontecendo no mercado", afirmou Renato Meirelles, presidente da Locomotiva

Feita a pedido do iFood, a pesquisa reuniu os relatos de 1.241 entregadores, coletados entre 23 e 26 de abril. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.

Como os ganhos dos entregadores foram afetados pela pandemia de coronavírus:

  • 25%: renda aumentou
  • 29%: renda permaneceu igual
  • 46%: renda diminuiu

Como os ganhos dos brasileiros foram afetados pela pandemia de coronavírus:

  • 2%: renda aumentou
  • 25%: renda permanece igual
  • 62%: renda diminuiu
  • 11%: não tem renda

Para Renato Meirelles, há uma explicação:

O fato de as pessoas ficarem em casa aumenta o serviço. Soma-se a isso uma série de ações das empresas de aumentarem as gorjetas. Algumas delas estão dobrando o valor das gorjetas dadas pelos clientes

Segundo o Rappi, o volume de clientes que dá gorjetas cresceu 50%. Os valores oferecidos aos entregadores subiram 80%.

No Brasil, registramos pico de aumento de 300% na demanda do aplicativo no início de março, quando comparamos ao começo do ano
Rappi

Outro detalhe levantado pela pesquisa é que quase um quinto dos entregadores começou a atuar com delivery quando o coronavírus já era uma realidade. Veja abaixo:

Tempo de trabalho como entregador:

  • 4%: há menos de 1 mês
  • 15%: entre 1 e 3 meses
  • 18%: entre 3 e 6 meses
  • 18%: entre 6 meses e 1 ano
  • 26%: de 1 a 2 anos
  • 20%: mais de 3 anos

Meirelles explica que as pessoas que passaram a atuar com delivery eram trabalhadores autônomos como ambulantes, que ficaram sem ocupação com a pandemia, ou profissionais com carteira assinada que perderam seu emprego. Entre eles, a fatia que perdeu renda foi menor ainda.

De um lado, a parcela de pessoas que ficou sem renda ou perdeu emprego, mas entrou no delivery, ganhou renda em comparação a outros brasileiros; de outro lado, tem as pessoas que já eram motoristas e passaram a ganhar mais do que antes. Parte das pessoas que mantiveram sua renda foi segurada pelos serviços de delivery
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva

O iFood sentiu esse movimento. Em março, 40 mil entregadores que não atuavam na plataforma desde janeiro voltaram a trabalhar. Com isso, a empresa registrou 170 mil colaboradores ativos naquele mês. Em média, eles ficaram conectados na plataforma 73 horas em média (considerando o mês com 25 dias, isso dá 2,9 horas diárias).

A empresa também informa que o rendimento dos entregadores aumentou. Para os que têm no delivery sua atividade principal de renda (35% do total), a guinada foi de 36%. Em abril, 61% deles receberam R$ 19 ou mais por hora trabalhada —o salário mínimo de R$ 1.045 tem valor por hora de R$ 4,75. Como 84% dos entregadores do iFood ficavam até seis horas por dia com o aplicativo ligado, o rendimento médio para eles chegou a R$ 2.850 no mês.

Tilt também procurou Uber Eats e 99Foods, que não responderam.

Meirelles, do Instituto Locomotiva, ressalta, porém, que estes trabalhadores estão trabalhando com medo.

Não é o maravilhoso mundo dos entregadores. Esses entregadores não estão imunes aos riscos da pandemia

Do total, 52% se sentem inseguros fazendo entregas. Ainda assim, as iniciativas das empresas foram bem avaliadas por eles. Para isso, o estudo consultou os trabalhadores a respeito de ações como fundo de ajuda financeira do iFood (para doentes com covid-19 e de pessoas em grupo de risco), distribuição de kits de higiene (álcool em gel e máscara), limpeza de motocicletas e descontos em consultas médicas. Ao menos sete de dez entregadores deram, pelo menos, nota oito para elas.