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Helton Simões Gomes

Formado pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em economia e mercado financeiro, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1. No UOL desde 2017, foi repórter de Tilt e editor do núcleo de diversidade. Ganhou os prêmios CNI de Jornalismo, Diversidade e Respeito do Conselho Nacional do Ministério Público e o Prêmio UOL - 2021, na categoria iniciativa inovadora. Atualmente, é editor de Tilt.

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Editor

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São Paulo

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Inglês e Espanhol

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não é só Supla! Contratos "inteligentes" via NFT ganham adeptos no Brasil

O cantor Supla, um dos adeptos do NFT - Divulgação
O cantor Supla, um dos adeptos do NFT Imagem: Divulgação

28/03/2021 04h00

Ela já arrebatou ícones do mundo da tecnologia, como Elon Musk e Jack Dorsey, e músicos descolados, como King of Leon e Grimmes. Agora, a onda dos NFTs, espécie de "contrato inteligente" está desembarcando no Brasil com um embaixador de peso.

Supla, que a internet está descobrindo ser muito mais que o cantor de "Japa Girl", está vendendo de peça de arte a videoclipe com a nova modalidade de negociação virtual. E ele parece liderar uma onda de brasileiros prestes a embarcar nessa. Assim como a camaleônico carreira de Supla, o NFT nasce com diversos propósitos. É candidato a marco revolucionário dos direitos autorais e, ao mesmo tempo, suspeito, sem provas por ora, de nova ferramenta para lavagem de dinheiro.

O que rolou?

Famosos e organizações gigantes encontraram um jeito de ganhar dinheiro na internet com itens virtuais a que todo mundo tem acesso de graça. E isso vem ocorrendo, como comentou o Guilherme Ravache, colunista de Splash, graças ao:

  • NFT é sigla para "Non-fungible Token" (Token não-fungível, em tradução livre). Ele é um ativo digital que possui uma assinatura única inserida na blockchain, espécie de livro de registros virtuais. O ponto é que...
  • ... Quando um item digital passa a ser associado a um NFT, ele ganha status de autenticidade. Isso porque...
  • ... Graças à tal assinatura gravada na blockchain, é possível verificar o criador do tal item e quem é o dono dele, ou seja, seu comprador. Por isso...
  • ... Já tem gente vendendo discos, entrada para shows online, desenhos, pinturas, videoclipes e até casas virtuais. Porém...
  • ... Um artefato vendido com NFT não é impossível de ser copiado. Quer piratear? Pode. Mas pense por outro lado: com o preço da Monalisa, quadro de Da Vinci pendurado no Louvre, a gente conseguiria comprar quantas fotos vendidas na saída do museu francês? Parece que...
  • ... Tem dado certo. Dorsey vendeu a primeira mensagem do Twitter por US$ 2,9 milhões e, nesta semana, um artista negociou por R$ 2,75 milhões uma casa que só existe no formato digital -- quase uma pechincha por um lugar que não precisa pagar conta de luz, água e condomínio (#contémironia).

Por que é importante?

É esta onda que Supla começa a surfar. Ele colocou à venda plataforma de venda de NFT Rarible um videoclipe feito no TikTok e edições limitadas de seis artes. O mais caro dos itens custa 1 Ethereum, moeda criptográfica usada nessas negociatas, algo em torno de R$ 1,6 mil.

Se você quiser, dá para ir até o perfil de Supla no TikTok e baixar o tal clipe. De graça. Por que pagar a ele, então? Por que aqueeeeela Monalisa vale algumas vezes mais que qualquer foto ou até mesmo uma reprodução muito competente da Monalisa?

O culpado da disparidade é o caráter "não fungível" do NFT do videoclipe de Supla e da Monalisa. Algo fungível podem ser trocadas sem prejuízo por similares (notas de R$ 5, por exemplo, podem ser trocadas por duas de R$ 2 e 10 moedas de R$ 10). Não é o caso do NFT, pois não há nada parecido com ele no blockchain.

Essa, pelo menos, é a ideia dos entusiastas do NFT: trazer para a internet a possibilidade de rastrear a autenticidade de uma obra para fazer com que a noção de valor seja restabelecida no mundo digital, onde autores verem suas criações muito difundidas não quer dizer (muito) dinheiro caindo na conta.

Não é bem assim, mas está quase lá

As grandes somas que transações recentes com NFT atingiram fazem saltar os olhos de gente em busca de dinheiro fácil. Aconteceu a mesma coisa com o bitcoin.

Com vistas a grandes valorizações, muita gente abraçou esquemas que prometiam ganhos vultuosos. Para não esquecer do rastro de prejuízo que operações de risco deixaram, um internauta, apenas identificado como AA4BA4, lançou artes colecionáveis em NFT com a imagem de responsáveis por estratégicas que fizeram muita gente perder dinheiro, como a do Grupo Bitcoin Banco.

Talvez a função mais útil, porém menos espetacular, dos NFT seja sob a forma de contrato — um produtor cria e vende um filme para um canal de TV; ele pode estipular que, a cada licenciamento, deverá ser remunerado; como a "posse" do filme está na blockchain, ele poderá ver todas as vezes que sua criação passou de mãos.