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Helton Simões Gomes

Formado pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em economia e mercado financeiro, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1. No UOL desde 2017, foi repórter de Tilt e editor do núcleo de diversidade. Ganhou os prêmios CNI de Jornalismo, Diversidade e Respeito do Conselho Nacional do Ministério Público e o Prêmio UOL - 2021, na categoria iniciativa inovadora. Atualmente, é editor de Tilt.

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Inglês e Espanhol

Até despejar Trump, redes sociais esqueceram regras para abrigar absurdos

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

10/01/2021 04h00

Facebook, Instagram, Twitter e YouTube viram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usar suas plataformas para mentir, incitar violência e até incentivar uma tentativa de golpe, anunciado com dias de antecedência por vários de seus apoiadores por meio de suas contas nas redes sociais.

Após quatro anos de um morde e assopra sem fim, resolveram ser mais incisivas e obrigaram Trump a remover tuítes, tiraram vídeos dele do ar e até suspenderam seus perfis — no Facebook, por tempo indeterminado. Tudo isso, porém, chegou tarde demais, afinal, analistas de mercado já veem Trump como um "pato manco". As consequências, no entanto, vão perdurar durante muito tempo, como mostro abaixo.

Desde que assumiu a Casa Branca, Trump estabeleceu uma política de teste diário das instituições. As Big Tech não são os freios e contrapesos da democracia norte-americana, mas também entraram na dança por controlarem canais de comunicação direta com a população. Vimos isso quando:

Ao longo do mandato, as redes sociais flexibilizaram suas regras quando o infrator era Trump. Era meio assim: "elas estão lá, valem para todo mundo, mas se for o presidente dos EUA a infringi-las, bem, aí pensamos melhor no que fazer".

No caso do Facebook, seu CEO, Mark Zuckerberg, chegou a ser confrontado por funcionários insatisfeitos com a inação da rede social. Vira e mexe, ele justificava que os posts eram mantidos no ar para os próprios usuários decidirem se eram bons ou não. O raciocínio, porém, valia para comentários banais ou para incitação a violência.

As concessões ao discurso preconceituoso de Trump começaram em 2015, quando ele era apenas candidato, detectou o Washington Post. E não pararam mais.

Uma vez empossado, o em breve ex-presidente dos EUA esticou a corda o quanto pode. Fez isso usando o poder de sua caneta, ora ameaçando investigações, ora instituindo inquéritos de fato, ora reduzindo impostos para elas e outras gigantes.

Trump forneceu diversas gotas d'água para ser expurgado de vez dessas plataformas, mas só foi removido agora que está prestes a ser colocado para fora também da Casa Branca. Pacientes, elas até esperaram ele insuflar os manifestantes e a posterior invasão do Capitólio para tomar qualquer decisão. Poderiam ter checado o feed da turma, que alardeou durante tempos que faria o que fez.

As redes sociais entenderam que as revoluções deixaram de ser apenas televisionadas e passaram a ser tuitadas, instagramadas e até tiktokeadas. Por que não também os golpes? O problema a partir de agora é que Trump estabeleceu um precedente: tudo bem fechar os olhos para uma infraçãozinha ou outra desde que seja um mandatário poderoso e com uma grande base de fãs. Mas e se ele também estiver disposto a quebrar outras coisas, como o regime democrático de seu país? Mau sinal para os países que tiverem seus futuros definidos nos próximos anos.

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