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Medina volta ao Mundial de Surfe: o que ele precisa para disputar o título?

O surfista Gabriel Medina volta ao circuito mundial neste final de semana - Reprodução/Instagram
O surfista Gabriel Medina volta ao circuito mundial neste final de semana Imagem: Reprodução/Instagram

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

26/05/2022 04h00

Gabriel Medina está de volta. Depois de ficar fora das cinco primeiras etapas do Mundial de Surfe para cuidar de sua saúde mental, o atleta de Maresias (SP) retorna ao circuito para a segunda metade da temporada; a primeira prova é na onda de G-Land, na Indonésia, que tem o período de espera entre 28 de maio (sábado) e 6 de junho.

Será a primeira etapa depois do polêmico corte de meio de temporada da WSL, que acontece pela primeira vez e reduz o número de competidores de 36 para 24, entre os homens, e de 18 para 12, entre as mulheres.

Como não competiu em nenhuma etapa, Gabriel, teoricamente, não somou pontos suficientes para ficar acima da linha de corte e continuar no circuito, mas competirá como convidado da Liga Mundial de Surfe (WSL) em todas as cinco etapas daqui para frente: G-Land (Indonésia), El Salvador, Rio de Janeiro (Brasil), Jeffreys Bay (África do Sul) e Teahupo'o (Tahiti).

A pergunta que fica é: será que Gabriel terá condições de, mesmo quase sem pontos, ficar entre os cinco primeiros colocados ao final dessas etapas e assim conseguir uma vaga no WSL Finals —que acontece em setembro, em Trestles (Califórnia)? A missão é extremamente complicada, mas não impossível, o que faz com que o tricampeão mundial não seja descartado da briga.

Contas e mais contas

Atual ranking do circuito masculino da WSL, com os cinco primeiros colocados e Gabriel Medina - Reprodução/WSL - Reprodução/WSL
Atual ranking do circuito masculino da WSL, com os cinco primeiros colocados e Gabriel Medina
Imagem: Reprodução/WSL

A conta para Gabriel Medina terminar a décima etapa entre os cinco primeiros e avançar para a grande decisão, em Trestles, está longe de ser algo exato, mas vamos simular alguns cenários possíveis.

O quinto colocado, que é Italo Ferreira, aparece na classificação geral com 18.895 pontos. Sem levar em conta o descarte de sua pior prova (o que não haverá daqui para frente), ele somou 20.225 pontos. Dividido por cinco, obtemos uma média de 4.045 pontos por etapa. Se ele mantiver esse ritmo na segunda metade da temporada, terminará Teahupo'o com 39.120.

Agora voltemos a Gabriel Medina, que tem uma pontuação de apenas 1.060 (265 pontos de cada prova não competida, menos o descarte). Para superar Italo Ferreira no cenário projetado, ele precisaria somar mais 38.060 pontos nas cinco próximas etapas. Medina conseguiria isso, por exemplo, com esses três cenários imaginários:

  • uma vitória (10.000), três vices (23.400) e um 5º lugar (4.745, equivalente a chegar às quartas de final) = 38.145
  • duas vitórias (20.000), dois vices (15.600) e um nono lugar (3.320, equivalente a chegar às oitavas) = 38.920
  • três vitórias (30.000), um vice (7.800) e um 17º lugar (1.330, sendo eliminado logo de cara) = 39.130

O que pensam Mineirinho, Teco e Renan Rocha

O UOL Esporte conversou com três brasileiros que fizeram história no circuito mundial para saber o que eles pensam em relação às possibilidades de Gabriel Medina buscar o WSL Finals —e, consequentemente, o tetra. Para Adriano de Souza, o Mineirinho, campeão mundial em 2015, a etapa de G-Land será mais do que decisiva para as pretensões do surfista de Maresias.

"Acho que o resultado é tudo. Se o Gabriel tiver um grande resultado agora, a motivação dele surge das cinzas e ele passa a ser um protagonista. Aí que o Gabriel fica perigoso. Agora, na matemática do jogo, ele é uma carta fora do baralho nesse momento. Mas acho que tudo vai depender do resultado da etapa de G-Land: se ficar entre os três, acho que vai ser bem perigoso para os outros atletas que estão disputando o Top 5 ver o Gabriel surgindo do nada [risos]", diz.

"Acho que é um momento de reflexão para ele, e vamos ver se a motivação dele está alta ou não. Tudo vai depender desses primeiros passos dele nesse retorno", complementa.

Estive agora recentemente com ele, na Indonésia, e sinto que ele está mais leve, mais focado nesse retorno. Tem grande possibilidade de ele fazer um grande resultado já logo de início, mas temos que ver também que ele ficou muito tempo fora das competições. O Gabriel nunca esteve nessa situação antes, então vai ser um grande aprendizado para ele, e para gente também, que acompanha o Gabriel nesses últimos dez anos, e ele sempre ganhando tudo porque ele tinha um ritmo, e esse ritmo foi quebrado.
Mineirinho

Já Renan Rocha, primeiro brasileiro a tirar uma nota 10 em Pipeline, ainda carrega certa dúvida se Gabriel realmente volta ao circuito com o foco em chegar às finais.

"Acho que ele nem está nesse apetite todo para querer fazer o impossível para tentar realmente acabar entre os cinco primeiros. Acho que ele vai agora dar uma curtida no circuito, pegando as ondas boas, mas competindo bem e dando um gás, claro. Impossível não é. Na matemática ele consegue, mas não acho que ele vai estar no apetite para quebrar esse cálculo matemático. Mas, vamos ver, Gabriel é Gabriel", opina.

Mais direto, Teco Padaratz, atual presidente da Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) e primeiro brasileiro a vencer Kelly Slater em uma final de circuito mundial (1992, na França), acredita piamente em Medina: "Se existe uma chance, ele consegue buscar".