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O passe

Se o gol é o fim e a razão final de um espetáculo, o passe é o meio. O que seria do gol sem o passe?

Há décadas, o craque do passe de uma equipe era o jogador do meio-campo, organizador e pensador do time. Quando a bola chegava a seus pés, tudo se iluminava, e os companheiros se preparavam para recebê-la. Ela chegava carinhosamente, limpa, redondinha, sem atropelos, no instante certo. Nem antes, nem depois. Tudo com a precisão de um cirurgião.

O passe curto deve ser feito, de preferência, com a parte interna do pé, de chapa, como uma tacada curta do golfe. O longo, com a parte superior interna ou externa (trivela ou três dedos).

O passe com o peito do pé (dorso) é eficiente, mas assim a bola não vai em curva. Por não saber dar efeito na bola, alguns armadores não conseguem fazer com que ela contorne o corpo do adversário para chegar ao companheiro do outro lado. Essa arte se aprende na pelada, descalço, brincando. De preferência, sem a presença de um professor.

O passe ideal, curto, médio ou longo, deve ser preciso e surpreendente. Antes de a bola chegar a seus pés, o passador mapeia todo o campo à sua frente, até a posição do corpo do adversário. Olha para um lado e joga a bola para o outro, onde não se espera.

Didi e Gerson foram os grandes passadores de bola que vi atuar. Didi jogava a bola onde ninguém esperava. Às vezes, nem seu companheiro. Foi o inventor da folha seca. O chute em curva, com os dedos externos do pé (três dedos ou trivela). A bola ia forte, em curva.

Gerson surpreendia menos, mas tinha a perfeição da técnica. Colocava a bola no ponto desejado. Exato. Atuava sempre com a cabeça em pé, olhando para frente. Seus passes longos, de 40 metros, são inesquecíveis.

Diferentemente do passe, os cruzamentos, principalmente com a bola parada, não visam especificamente um jogador.

Antigamente, a maioria dos gols acontecia após troca de passes, dribles e tabelas. Hoje, saem de cruzamentos, principalmente de bolas paradas. A melhoria dessa técnica foi uma evolução para o futebol brasileiro. Pena que pioramos em outros fundamentos.

Bons cabeceadores e cruzadores se tornaram mais eficientes que jogadores leves e habilidosos. O cruzamento deve ser feito, de preferência, com o pé do lado em que a bola será cruzada, em curva, sem deixar a bola subir muito, em alta velocidade, saindo do goleiro. Esse não conseguirá calcular o lugar exato aonde a bola vai cair. Fica no meio do caminho, e o atacante cabeceia de frente.

Alguns treinadores preferem a cobrança com a perna trocada. Desse jeito, a bola faz a curva em direção ao goleiro. Alguém a desvia com a cabeça. Outro jogador completa para as redes. Mesmo se ninguém tocá-la, atrapalha o goleiro.

Nesse cruzamento em curva, os jogadores brasileiros têm mais habilidade que os estrangeiros.



Tostão escreve no UOL Esporte com exclusividade às quintas-feiras;
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P.Tostão, parabéns pelas suas crônicas inteligentes. Pergunto: quem deveria comandar a nova liga de futebol, que está sendo formada, e quais seriam os principais critérios para essa escolha, além de honestidade e conhecimento de futebol?
Inocêncio Nunes


R.Penso que as ligas deveriam ser dirigidas por profissionais independentes, sem vínculo com os clubes, e que tivessem conhecimento técnico do futebol. Ex-jogadores que se prepararam para essa função poderiam colaborar com os executivos.

P.Caro Tostão, você acha que uma possível unificação de calendário com a Europa seria uma solução para o nosso calendário?
Ronald J. S. Santiago


R.Acho que seria uma boa medida, até mesmo essencial para a seleção brasileira, já que existe muitos jogadores do time atuam na Europa.