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Estatística no futebol

Aprendi, durante seis anos como estudante e dezesseis como médico e professor, que a medicina é uma ciência humana, biológica e, principalmente, estatística. Todo ato médico, seja prescrição de um remédio, uma cirurgia ou uma orientação, tem riscos e benefícios calculados. Nunca se tem certeza do resultado final. Isso não tira a responsabilidade do médico.

O médico que não conhece as possibilidades estatísticas de sucesso e fracasso do seu procedimento e somente confia na sua observação clínica, será no mínimo, um profissional prepotente.

Por outro lado, se atender um paciente raciocinando somente com as chances matemáticas, sem entender que aquele doente é um paciente único, especial, diferente de todos os outros, não será um médico, e sim um técnico em medicina.

No futebol não é diferente. Se faço uma avaliação de um jogador durante um campeonato, sem contar com seus dados estatísticos e a história de sua trajetória, a análise será deficiente.

Por outro lado, se analiso um atleta somente pelos frios números, sem a observação técnica de suas atuações em campo, ela também será falha. O exemplo clássico é o do jogador de meio-campo que não erra passe, mas que não arrisca e somente passa a bola para o jogador mais próximo.

Seria interessante para a ciência estatística do esporte, e para satisfazer a curiosidade de todos, uma análise numérica da trajetória dos jogos do Pelé, como os da Copa de 70. Provavelmente, os números estarão muito aquém de sua eficiência e genialidade.

Vou repetir uma história do lendário técnico Filpo Nunes. Após dirigir a Academia do Palmeiras por muitos anos, ele comandou o Cruzeiro de minha época. Depois de uma partida, um atacante do time mineiro foi eleito, pela crônica, o melhor do jogo. O técnico reuniu os jogadores e perguntou ao craque da partida

- Quantos gols você fez?
- Nenhum.
- Quantas finalizações fez que quase resultaram em gol?
- Nenhuma
- Então, você não jogou nada.

Tostão escreve no UOL Esporte com exclusividade às quintas-feiras;
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P.Será que na eleição de melhor jogador do século não deveria ter entrado o saudoso Garrincha?
Walter Rocha, Maringá


R.Walter, na minha opinião, depois do Pelé, Maradona, Garrincha e Cruyff foram os melhores jogadores que vi atuar. Garrincha foi o mais lúdico de todos. Bailava em campo, dava seu show e ainda era muito eficiente.

P. Os grandes salários pagos a atletas e treinadores não atrapalham a formação de um grande time, que possa atuar unido e com o propósito de defender com determinação e garra suas cores? Ou seja, os grandes salários não endeusam, não os tornam estrelas a ponto de acomodá-los quanto a sua dedicação profissional? Claudio Pinto

R.Claudio, os jogadores têm de ganhar de acordo com a arrecadação dos clubes. O problema maior dos clubes é a má administração. Gastam mais do que arrecadam. Compram jogadores por preços absurdos, muito acima do valor técnico. Alguns jogadores realmente caem de produção quando ficam ricos e famosos muito cedo.