Maioridade

Após Sul-Americana em 2018, Athletico conquista seu primeiro título da Copa do Brasil

Marcello de Vico Colaboração para o UOL, em São Paulo Lucas Figueiredo/CBF

Marcelo Cirino, com a bola dominada na esquerda, driblou com um toque de calcanhar Edenílson e Sóbis. Depois, driblou mais um e cruzou para Rony marcar. Foi o segundo gol do Athletico no jogo de volta da final da Copa do Brasil. O gol do título.

Foi a primeira conquista de um time paranaense no torneio, mas o ineditismo da conquista não é o que importa. O que é realmente relevante é a repetição de títulos. No ano passado, foi a Sul-Americana. Neste, a Copa do Brasil. Não é mais possível tratar o Athletico como passageiro. Hoje, o clube conquistou a maioridade com uma receita caseira.

Saber trabalhar com as categorias de base e tirar proveito dela, tanto dentro de campo quanto fora dele, é o objetivo de todo clube de futebol. E o Athletico deve ser quem melhor faz isso no por aqui atualmente.

Lucas Figueiredo/CBF

Todo mundo era favorito, menos o Athletico. Athletico é campeão

Bruno Guimarães, meia do Athletico

Pedro H. Tesch/AGIF Pedro H. Tesch/AGIF

A conquista desta semana, superando o Internacional duas vezes na decisão do torneio nacional, tem muito a ver com isso. Dos 11 titulares, três são crias do CT do Caju, o centro de excelência em formação de talentos do clube: o goleiro Santos, o lateral Khellven e o zagueiro Léo Pereira. Marcelo Cirino, o autor da jogada que valeu o título, é reserva, mas também saiu de lá.

Além deles, Bruno Guimarães, Léo Cittadini e Robson Bambu foram revelados em outros clubes, mas chegaram jovens ao Paraná e, antes de brilhar no time principal, passaram pelo time de aspirantes do Furacão que jogou o Campeonato Paranaense. É o jeito Athletico de fazer as coisas: se for investir, o caminho é com jovens, que podem ser moldados.

Claro que o sucesso não passou apenas pela excelência com as categorias de base. A chegada de peças pontuais, como os atacantes Marco Ruben e Rony ou o volante Wellington, deu ao time o toque de experiência que o Athletico precisava para evoluir e alcançar o nível que alcançou. Tudo isso (muito bem) administrado pelo principal personagem dessa conquista: o técnico Tiago Nunes, que em pouco mais de dois anos de clube — incluindo a passagem no sub-23 — fica marcado na história de uma forma que nenhum outro treinador conseguiu.

5 momentos chave do título do Athletico

Reprodução

CT do Caju é chave da conquista

O CT do Caju é, certamente, um dos grandes culpados pelo Athletico revelar tanto — e tão bem. Não é à toa que o centro de treinamento localizado na Estrada do Ganchinho, em Curitiba, a pouco mais de 10 quilômetros da Arena da Baixada, é uma das referências no Brasil quando o assunto é estrutura para as categorias de base.

Basta uma visita rápida ao local — ou até mesmo ao site do Athletico — para se ter uma ideia do que os jogadores criados no Furacão têm à disposição: são 220 mil metros quadrados em um complexo com oito campos, campo para goleiros, áreas específicas para desenvolvimento de habilidades motoras, ginásio coberto, dois hotéis, dois restaurantes, lavanderia, duas piscinas térmicas e academia.

Dessa estrutura saíram, nos últimos anos, nomes que você deve conhecer. Neste ano, o time vendeu, por exemplo, Renan Lodi para o Atlético de Madri, mas antes dele já tinham saído de lá Fernandinho, Jadson, Neto, Otávio, Marcos Guilherme e Marcelo Cirino - que voltou há dois anos.

Jeferson Guareze/AGIF Jeferson Guareze/AGIF
Thiago Ribeiro/AGIF

Santos, o paredão

A missão não era fácil: substituir o ídolo Weverton e fazer com que os rubro-negros não sentissem saudades do goleiro que hoje defende o Palmeiras e a seleção brasileira. Mas assim foi. Sem muito alarde, Santos foi passando aquela confiança que todo aficionado sonha em ter com o seu goleiro.

Quando o Athletico precisou dele na Copa do Brasil, ele esteve lá. Foi assim contra o Flamengo, quando pegou duas cobranças na decisão por pênaltis no Maracanã, pelas quartas de final, e também diante do Grêmio, na semifinal, quando defendeu a batida de Pepê e colocou os paranaenses na decisão.

Na final, é verdade, não teve tanto trabalho: o gol de Nico López, o único do Internacional na decisão, foi após um bate-rebate na área em que ele não teve culpa.

Gabriel Machado/AGIF

Léo Pereira: "Athletico merece ser respeitado"

Mais uma cria do Athletico, Léo Pereira passou por Guaratinguetá, Náutico e até Orlando City antes de realmente se destacar com a camisa rubro-negra. Depois de um bom Campeonato Paranaense com o time de aspirantes no ano passado, o zagueiro se firmou de vez na equipe principal e não demorou a chamar atenção.

Destaque já na conquista da Sul-Americana do ano passado, Léo Pereira está há algum tempo na mira de grandes times europeus, como Roma e Inter de Milão, e vem sendo observado pelo técnico Tite. Por pouco não deixou o clube já na última janela internacional. Dificilmente cumprirá o contrato, que vai até 2022, até o final.

Esse título para coroar o trabalho bem feito no clube. O Athletico merece ser respeitado e reconhecido"
Léo Pereira

Gabriel Machado/AGIF

Bruno Guimarães, a revelação

Grande nome do Athletico na inédita conquista da Copa do Brasil, Bruno Guimarães tem apenas 21 anos, mas comanda o meio-campo como gente grande. Não à toa, já conta com a admiração de um dos maiores técnicos do mundo, Diego Simeone, e, inclusive, tem a preferência do Atlético de Madri para a sua contratação.

Descoberto pelo Athletico no Audax-SP e com multa rescisória no valor de 40 milhões de euros (quase R$ 180 milhões), Bruno Guimarães está na mira dos observadores de Tite e pode até pintar na próxima chamada do técnico da seleção brasileira, que acontece nessa sexta. É visto como alternativa para renovar o meio-campo da seleção, um dos setores que mais sofrem com a reformulação de Tite.

Pois é, a gente joga o nosso futebol e deixa o extracampo fora. A gente tinha confiança que podia vir aqui e sair com o título. O clube é muito fechado, o elenco é fechado. E o título é nosso"
Bruno Guimarães

Pedro H. Tesch/AGIF Pedro H. Tesch/AGIF

Nikão superou o alcoolismo

Superação. A palavra define a trajetória de Nikão, que, depois de rodar por diversos clubes na carreira, encontrou no Athletico tudo que precisava para, enfim, decolar. Não só dentro de campo, mas, principalmente, fora dele. Com o apoio essencial da família, o atacante conseguiu superar o que era, até então, seu maior adversário: o alcoolismo.

Com a cabeça focada só em jogar bola, Nikão se tornou — já há algum tempo — uma das peças mais importantes do time. Segundo jogador que mais atuou pelo Athletico do elenco atual (212 jogos), atrás apenas de Marcelo Cirino, foi decisivo na semifinal contra o Grêmio com um gol no tempo normal e depois convertendo uma das cobranças na decisão por pênaltis.

Gabriel Machado/Agif

A estrela de Marco Ruben

Contratado no início do ano, Marco Ruben foi uma aposta certeira da diretoria do Athletico. E isso pôde ser percebido em pouco tempo. Logo em sua terceira partida com a camisa rubro-negra, o atacante argentino tratou de se apresentar aos torcedores com uma atuação histórica contra o Boca Juniors pela Libertadores: 3 a 0, três gols dele na Arena da Baixada.

Ruben manteve a boa média de gols até engatar um jejum de 12 jogos sem gols que todo grande atacante passa. Mas ele compensou o longo hiato com um gol mais do que decisivo: usou a cabeça para fazer 2 a 0 no Grêmio, na Arena da Baixada, e levar a semifinal para a decisão por pênaltis. Nela, foi o quinto batedor e converteu sua cobrança antes de Santos pegar o pênalti de Pepê.

REUTERS/Rodolfo Buhrer

Marcelo Cirino: a redenção

Marcelo Cirino é o atleta mais longevo do elenco em relação ao tempo de clube. São 11 anos vestindo a camisa do Athletico, entre idas e vindas. Revelado pelo clube, desde 2015 ele foi emprestado pra Flamengo, Internacional e Al Nasr, dos Emirados Árabes. Não deu certo em nenhum.

Neste ano, inclusive, perdeu espaço com a ascensão de Rony e com a eficiência de Marco Rúben. Mesmo assim, foi vital no título, com a "caneta de letra" no drible que resultou no segundo gol de ontem.

A jogada foi inexplicável. Sabia que o jogo estava acabando e tentei levar a bola para o fundo, mas aí dois jogadores vieram e tive que tirar uma carta na manda. (...) Tive que dar um jeito para passar o tempo"
Cirino ainda no gramado, em entrevista à TV Globo

O protagonismo é uma recompensa para o jogador que, em 2013, perdeu a final de Copa do Brasil para o Flamengo. "Duas finais de Copa do Brasil e uma de Sul-Americana. Eu disse que estava voltando porque não tinha acabado minha história aqui em 2014. Ainda bem que veio este título para coroar".

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O cérebro da conquista: Tiago Nunes

Como falar do título da Copa do Brasil e do novo status do Athletico sem falar de Tiago Nunes? Não pode ser coincidência que a grande fase que vive o time paranaense tenha começado justamente quando ele assumiu o comando do time principal, em junho do ano passado, após a saída de Fernando Diniz.

O treinador, que chegou ao Athletico em 2017 para treinar o sub-23, já conquistou quatro títulos: o Estadual de 2018, a Copa Sul-Americana 2018, a antiga Copa Suruga deste ano e agora acaba coroado com mais um título inédito para o Athletico Paranaense. Por muitos torcedores, já é apontado como maior técnico da história do clube. Dá para discordar?

Esse grupo é repleto de amor, de parceria, de carinho, de trabalho, dedicação e fome de ser campeão"
Tiago Nunes, técnico do Athletico

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