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Demissões por WhatsApp custam R$ 26 mi ao Flu, valor de 9 folhas salariais

Henrique e Diego Cavalieri colocaram o Fluminense na Justiça - Nelson Perez/Fluminense FC
Henrique e Diego Cavalieri colocaram o Fluminense na Justiça Imagem: Nelson Perez/Fluminense FC

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/09/2019 04h00

O que era para representar uma economia de R$ 20 milhões aos cofres das Laranjeiras virou uma dívida difícil de ser honrada pelo Fluminense. As demissões de oito jogadores pela gestão Pedro Abad em dezembro de 2017, feitas pelo WhatsApp pelo então diretor de futebol Marcelo Teixeira, já oneraram o Tricolor em R$ 26 milhões, contando com execuções, descumprimentos pelo Flu que podem engordar a conta e acordos feitos pela nova gestão, de acordo com levantamento do UOL Esporte. O objetivo inicial era pagar apenas R$ 14 milhões.

O balanço do clube referente ao ano, assinado por Abad, começa com a seguinte frase: "Este foi o ano de consolidação das medidas de austeridade financeira". Mas o que se vê em 2019 é um panorama bem diferente. Os valores gastos com as dispensas são equivalentes a nove folhas salariais. Além das penhoras que asfixiam o clube, representam outro problema que o presidente Mario Bittencourt herdou de antigas gestões.

Apesar de não ter participado ativamente do mandato de Abad, Mario foi o vice de futebol que acertou a renovação de Diego Cavalieri e a contratação de Henrique por altos valores.

Diego Cavalieri com Mario Bittencourt, atual presidente do clube - Divulgação/Fluminense - Divulgação/Fluminense
Imagem: Divulgação/Fluminense

Ao todo, Cavalieri, Henrique, Wellington Silva (lateral), Marquinho, Artur, Robert, Higor Leite e Maranhão foram dispensados pelo Flu em um plano mal executado, que também resultou em instabilidade política ao clube.

Traçado em conjunto por vice-presidentes da Flusócio e da coalizão Fluminense Unido e Forte, o plano envolvia rescisões amigáveis tão logo o Tricolor se livrasse do rebaixamento, o que aconteceu contra a Ponte Preta, em 20 de novembro de 2017. Os e-mails sem resposta de Diogo Bueno ao presidente Pedro Abad com questões sobre o atraso no planejamento não foram respondidos, até que no dia 28 de dezembro de 2017, a notícia caiu como uma bomba no clube.

De lá para cá, não faltaram esforços para corrigir o erro, creditado a Marcelo Teixeira - mesmo personagem responsabilizado culpado pelo e-mail que gerou o "caso Diego Souza". Vale lembrar que o dirigente foi mantido e prestigiado até o fim da gestão Abad.

Marcelo Teixeira com Pedro Abad - Nelson Perez/Fluminense FC - Nelson Perez/Fluminense FC
Imagem: Nelson Perez/Fluminense FC

Um documento (faça o download no fim do texto), redigido pelo então vice jurídico Miguel Pachá e assinado pelo presidente e representantes dos outros três poderes do clube (os vice-presidentes pelo Conselho Diretor, o presidente e os secretários do Conselho Deliberativo e o presidente do Conselho Fiscal), deixa claro o planejamento e o erro de Teixeira na execução do plano.

Documento do Fluminense sobre episódio de dispensa por WhatsApp - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução


Recentemente, o goleiro Diego Cavalieri e o meia Marquinho, que hoje atuam nos rivais Botafogo e Vasco, respectivamente, conseguiram vitórias na Justiça do Trabalho. O Fluminense viu penhorados parte das cotas da Rede Globo e do patrocínio Auto Visa Rio, que divulga sua marca na parte superior da camisa do clube. Além deles, o meia Higor Leite também conseguiu vitória judicial.

Para Cavalieri, a intenção era pagar R$ 6,1 milhões, dos quais R$ 3,4 milhões foram pagos pelo Flu até que o goleiro parou de receber o que tinha direito e ingressou com nova petição de sequestro de bens. O clube teve 15% das cotas da Rede Globo penhoradas até chegar a R$ 2,8 milhões.

Já Marquinho, que declarou, à época, não ter sido procurado para negociar. Dos R$ 6 milhões previstos, o Fluminense pagou apenas R$ 1 milhão. Em ação judicial, o jogador cobra mais R$ 10,3 milhões, fruto de juros e multas pelo descumprimento do acordo. Neste mês, o jogador conseguiu vitória na Justiça, e o clube viu penhorados os valores a receber do patrocínio com a Auto Visa Rio, que expõe sua marca na parte superior do uniforme tricolor.

Marquinho pelo Fluminense em 2017 - Cristiano Andujar/AGIF - Cristiano Andujar/AGIF
Imagem: Cristiano Andujar/AGIF

Para Higor Leite, o Tricolor pagaria R$ 240 mil se cumprisse seu acordo. Foram desembolsados apenas R$ 97 mil. O meia, atualmente no Londrina, agora terá R$ 860 mil a receber do Flu, recalculados de outras dívidas trabalhistas, juros e multa pelo descumprimento do contrato.

Robert assinou acordo para receber R$ 1,5 milhão do Fluminense. O meia, que atualmente atua no futebol de Hong Kong, recebeu apenas R$ 500 mil. Ele cobra mais R$ 1,3 milhão do Tricolor, cálculo que também envolve juros e multas. A ação ainda está em aberto.

O zagueiro Artur atuou em apenas um jogo com a camisa do Fluminense. Contratado em 2015, ficou mais conhecido pela relação polêmica do atual presidente Mario Bittencourt, à época vice de futebol, com o grupo de empresários que administra sua carreira, a Bloom Soccer.

Mario representou a Bloom como advogado em algumas ações judiciais, e um de seus escritórios de advocacia são vizinhos da empresa de agenciamento de jogadores em um centro comercial na Barra da Tijuca. Com o defensor, o Flu fechou acordo de R$ 460 mil, mas pagou apenas R$ 134 mil. O atleta cobra mais R$ 450 mil do Tricolor. A ação ainda rola na Justiça.

O lateral Wellington Silva cobrava R$ 1,4 milhão do Fluminense. O presidente Mario Bittencourt fechou acordo extrajudicial para pagar R$ 1,2 milhão em quatro parcelas ainda em 2019. O jogador foi o último a ingressar com ação na Justiça, pois não queria onerar o clube apesar dos atrasos e descumprimentos.

Confira aqui a carta que culpa Marcelo Teixeira pelas demissões por WhatsApp.

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