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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por que Fair Play Financeiro vetou Messi no Barcelona, mas liberou no PSG?

10/08/2021 04h00

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Depois de 21 anos defendendo as cores do Barcelona, Lionel Messi precisou deixar o clube por causa de restrições impostas pela política de Fair Play Financeiro. O Paris Saint-Germain, no entanto, não deve ter nenhum problema para registrar o contrato do astro argentino.

A situação tem incomodado muita gente na Catalunha. Sócios do clube culé alegam que o PSG também só teria condições financeiras de arcar com o salário do seis vezes eleito melhor jogador do mundo se inflasse artificialmente suas contas. Por isso, a transferência teria de ser vetada.

Mesmo sem entrar no mérito das alegações feitas pelos espanhóis, existe uma diferença brutal entre as situações do Barcelona e da equipe francesa: as regras de Fair Play Financeiro que se aplicam ao primeiro são diferentes das que regulamentam os gastos da segunda.

O Barça não poderia continuar com Messi por causa de uma regra estabelecida pela La Liga, a entidade que gerencia as principais divisões do futebol jogado na Espanha.

O Fair Play Financeiro espanhol delimita que, antes do início de cada temporada, seja estabelecido um limite de gastos com folha salarial para cada clube, elaborado a partir de quanto dinheiro ele arrecadou nos 12 meses anteriores.

Esse teto de gastos é inquebrável. Ou seja, os times espanhóis simplesmente não conseguem registrar contratos de novos atletas se eles ultrapassarem o limite previamente estabelecido. A única forma de esticá-lo é receber mais dinheiro com novos acordos publicitários ou venda de jogadores.

Ou seja, o Barcelona não conseguiria inscrever Messi na temporada 2021/22 porque seu salário (mesmo reduzido em 50%, conforme combinado com o atleta) faria com que o clube estourasse seu limite de gastos deste ano —algo em torno de 200 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão), de acordo com o jornal inglês "The Guardian".

Independentemente de o PSG possuir ou não condições financeiras de bancar o craque argentino, não existe na regulamentação do futebol francês nenhum mecanismo que seja capaz de brecar a contratação neste momento.

As regras de Fair Play Financeiro às quais o clube está francês submetido são as da Uefa. Mas ao contrário do que faz a vertente espanhola da política de contenção de gastos, a entidade europeia não determina o quanto um clube pode ou não gastar.

A Uefa apenas analisa as contas de temporadas já fechadas. Ou seja, ela só verá o impacto que Messi provocou nas finanças parisienses daqui a um ano, quando receber o balanço referente a arrecadação e gastos de 2021/22. Até lá, nada poderá ser feito.

O PSG já foi investigado algumas vezes pela entidade europeia por supostas irregularidades em suas contas. Uma das questões mais polêmicas do seu orçamento está ligada a seus vários contratos de patrocínio com empresas do Qatar, o que pode ser visto como uma forma artificial de injeção de dinheiro feita por seus proprietários (um fundo de investimento também ligado ao governo qatariano).

Superado pelo Lille no Campeonato Francês e derrotado nas semifinais da Liga dos Campeões na temporada passada, o PSG mergulhou com força nesta janela de transferências para montar um time capaz de ganhar tudo nesta temporada.

Além de Messi, também desembarcam em Paris o goleiro italiano Gianluigi Donnarumma (Milan), o veterano zagueiro espanhol Sergio Ramos (Real Madrid), o lateral direito marroquino Achraf Hakimi (Inter de Milão) e o meia holandês Georginio Wijnaldum (Liverpool).

A equipe dirigida pelo argentino Mauricio Pochettino estreou na Ligue 1 no último sábado (7). Mesmo ainda com vários desfalques (Marquinhos e Neymar, por exemplo, não jogaram), derrotou o recém-promovido Troyes por 2 a 1.