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Após silêncio, Aras usa entrevista gravada para defender 'sucesso da urna'

Paulo Roberto Netto

do UOL, em Brasília

21/07/2022 14h52Atualizada em 21/07/2022 16h23

Após três dias de silêncio, o procurador-geral da República Augusto Aras divulgou nesta quinta-feira (21) o vídeo de uma entrevista antiga dada a veículos internacionais na qual diz que não aceitará "alegações de fraude" nas eleições, mas evita fazer críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A conversa foi gravada no dia 11 de julho, uma semana antes de Bolsonaro encontrar embaixadores no Palácio da Alvorada para reciclar mentiras sobre o processo eleitoral.

O vídeo foi divulgado hoje em um perfil de Aras no Youtube. Antes da gravação, uma mensagem informa que o PGR "recorda a necessidade de distanciamento, independência e harmonia entre os Poderes".

"E que as instituições existem para intermediar e conciliar os sagrados interesses do povo, reduzindo a complexidade das relações entre governantes e governados", continua o texto que introduz a gravação.

Aras tem sido pressionado por alas internas do Ministério Público Federal a agir em relação à reunião de Bolsonaro com embaixadores, ocasião em que o presidente voltou a atacar, sem provas, a lisura do processo eleitoral e criticar os ministros Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, respectivamente o ex, atual e próximo presidente do TSE.

No trecho da coletiva a veículos de imprensa internacional, Aras evita criticar os ataques de Bolsonaro, mas diz que quem ganhar a eleição será diplomado e tomará posse.

Nós não aceitamos alegação de fraude porque nós temos visto o sucesso da urna eletrônica ao longo dos anos, especialmente no que toca à lisura dos pleitos"
Augusto Aras, procurador-geral da República em entrevista a jornalistas

Aras, que até o momento não apresentou nenhuma denúncia contra Bolsonaro ao longo de quase três anos de mandato, deverá ser provocado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a se posicionar sobre a reunião com os diplomatas. No dia seguinte à reunião, líderes de sete partidos de oposição pediram ao Supremo que o presidente seja investigado por crime contra o Estado democrático de Direito.

A petição, que já foi recebida pelo Supremo, deverá ser encaminhada pelo ministro relator diretamente à PGR, que vai determinar se há indícios para a abertura de um inquérito e, eventualmente, de uma acusação formal. A tendência, no entanto, é que isso não ocorra: segundo a colunista Carolina Brígido, do UOL, o órgão não vê crimes na manifestação de Bolsonaro.

Hoje, o ministro Edson Fachin, presidente do TSE, deu cinco dias para Bolsonaro se manifestar em três representações movidas pela oposição que questionam o encontro com embaixadores. Os partidos afirmam que o presidente disseminou informações falsas sobre as urnas e pedem a remoção do vídeo da transmissão do Youtube.

Pressão dentro do Ministério Público

Na terça-feira (19), um grupo de 43 procuradores federais enviou uma representação a Aras cobrando uma investigação contra Bolsonaro por ataques ao sistema eleitoral. O documento foi assinado pelo procurador federal dos Direitos dos Cidadãos, Carlos Alberto Vilhena.

A notícia-crime afirma que ao reunir embaixadores estrangeiros para atacar o sistema eleitoral, Bolsonaro "afronta e avilta a liberdade democrática, com claro propósito de desestabilizar e desacreditar o processo e as instituições eleitorais".

Paralelamente, mais de 30 subprocuradores, o topo da carreira do MPF, enviaram uma nota pública cobrando atuação de Aras no caso. Para o grupo, a legislação estabelece como crime de responsabilidade o uso do poder federal para impedir a livre execução da lei eleitoral, servir-se das autoridades sob sua subordinação para prática de abuso de poder e tentativa de subverter, "por meios violentos", a ordem pública e social.

Lira mantém silêncio

Na contramão de entidades e autoridades públicas que saíram em defesa do sistema eleitoral brasileiro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sem mantém calado sobre a declarações recicladas e infundadas de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.

Interlocutores próximos de Lira, ouvidos pelo UOL, afirmam que ele não compactua com as avaliações do presidente e que já defendeu publicamente a democracia e as urnas eletrônicas.

Desde a fala aos embaixadores, contudo, o deputado não repudiou a fala publicamente, seja por nota oficial ou por manifestações em redes sociais. A postura é diferente, por exemplo, da adotada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (União-MG), que declarou que a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocados em dúvida.