Topo

Ricupero: 'Bolsonaro com embaixadores é justificativa a possível golpe'

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/07/2022 15h27

O ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Ricupero, falou hoje durante participação no UOL News sobre a reunião que o presidente Jair Bolsonaro (PL) irá fazer com embaixadores estrangeiros para falar sobre o sistema eleitoral brasileiro. Para Ricupero, a reunião não terá nenhum efeito prático e ainda prepara o cenário para uma possível contestação do resultado das eleições de outubro.

"É uma medida que seria cômica se não escondesse um aspecto inquietante, porque é tão absurda e ridícula que é incapaz de produzir algum efeito prático. (...) se partimos do pressuposto que ele é um homem racional e que o ministro da Defesa que ele convidou também é um homem racional, e se eles estão se engajando nisso sem nenhuma possibilidade de efeito positivo, qual é a explicação? É que eles estão começando a preparar algumas peças para uma eventual contestação", disse durante participação no UOL News.

O diplomata ainda chamou a atenção para um possível golpe neste cenário de contestar o resultado das eleições e afirmou que essa atitude de Bolsonaro só prejudica a imagem do Brasil no exterior.

"(Essa reunião) só pode ser vista como uma espécie de justificativa antecipada de um possível golpe e uma atitude de querer negar o resultado eleitoral. É absolutamente sem precedentes o presidente de um país convidar representantes de nações estrangeiras para questionarem as instituições do próprio país e colocar em dúvida o sistema eleitoral responsável por seu mandato."

Durante a participação no UOL News, Ricupero ainda criticou o fato de Bolsonaro convocar a reunião ocupando o posto de presidente, dizendo que isso faria muito mais sentido para algum outro candidato que não ocupasse o cargo.

"Um candidato qualquer pode tomar a iniciativa de convidar embaixadores para dizer qualquer barbaridade que queira, e aí cabe ao embaixador ter o bom senso de não se acumpliciar com isso. Mas o presidente da República é o guardião supremo das instituições. Se ele tem uma queixa contra o funcionamento das instituições, ele deveria encaminhar isso pelas vias legais através da corte suprema ou por um esforço de mudar a legislação".