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Lata Velha: oficinas relatam perrengues e prejuízos em reformas do programa

Paula Gama

Colaboração para o UOL

01/12/2021 04h00

Lançado em 2005, o quadro Lata Velha se tornou um clássico quando se fala em carros na TV aberta e coleciona, além de customizações memoráveis e boas histórias, muitas polêmicas. Carros com visual duvidoso, participantes insatisfeitos e até processo judicial estão entre elas, o que desperta em muitos a curiosidade: afinal, como são feitas as restaurações para o programa de Luciano Huck?

Para entender como funciona o processo de restauração de um carro participante, conversamos com os proprietários de duas das mais de cinco oficinas que passaram pelo quadro. Eles explicam que não é um trabalho simples: além de prazo apertado, os técnicos lidam com veículos em péssimas condições e orçamento muito limitado.

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Os modelos reformados por Tarso Marques preservavam mais o design original  - Divulgação - Divulgação
Os modelos reformados por Tarso Marques preservavam mais o design original
Imagem: Divulgação

Ex-piloto de Fórmula 1 e proprietário de empresa especializada em customização, Tarso Marques foi responsável pelas transformações do Lata Velha durante cinco anos. Nesse período, diz ter promovido uma mudança no perfil do quadro.

"Já tinha sido convidado para o quadro outras duas vezes, mas não aceitei porque era uma linha totalmente diferente da que eu trabalho. Eu faço carro com cara de carro, não carro alegórico. E essa foi a condição para que eu participasse", conta.

Durante os cinco anos em que participou do programa, os modelos entregues tinham características mais discretas, diferentemente de veículos chamativos que foram feitos em outros anos. Modelos como o "carro do ovo", o Fiat 147 de seis rodas e o Volkswagen Logus do pedreiro Luizinho ficaram famosos pelo estilo controverso em temporadas anteriores.

Ainda assim, o trabalho não foi simples. Segundo Tarso, carros nos quais ele passaria mais de um ano trabalhando em sua empresa tinham que ser entregues entre oito e 15 dias após o início da reforma.

"É um carro que não tem absolutamente nada. É realmente um lixo. A maioria não tem assoalho, tem rato dentro, vocês não têm ideia do estado que o carro chega. É um prazo muito pequeno, um orçamento extremamente apertado, tem coisas que temos que usar de patrocinadores e ainda precisa ser um carro útil para passear, trabalhar, desfilar", lembra Tarso Marques.

Orçamento curto

Quem também conversou com UOL Carros foram os proprietários da Dimension Customs, oficina que participou do quadro por três anos e reformou 33 carros. Os sócios Emerson Calvo, Daniel Barbosa e Juliano Barbosa concordam com as palavras de Marques. E, segundo eles, o valor pago pela Rede Globo não era suficiente nem mesmo para pagar a folha de funcionários.

"Nós éramos conhecidos por participar de um reality do Discovery quando a Globo entrou em contato. Na época, aceitamos firmar contrato por um valor baixo pensando na visibilidade. Não podemos revelar a quantia por causa da confidencialidade, mas para pagar os funcionários que trabalhavam nos carros do programa nós usávamos a renda dos eventos que fazíamos na época", lembram.

A Dimension Customs assumiu o quadro logo após a Nittro Hot Rods, responsável pela maioria dos carros "chamativos", deixar o programa. A oficina anterior, que já fechou as portas, protagonizou uma polêmica envolvendo a troca do carro de um participante. Após o incidente, a regra de captação de automóveis mudou.

"Além de ter uma boa história, buscávamos carros mais fáceis de atender, que tinham peças no mercado. Isso porque, independente do modelo, o orçamento e o prazo para a reforma eram os mesmos. Nós queríamos fazer o melhor com o que tínhamos", disse Daniel Barbosa.

Segundo os sócios da Dimension, eles chegaram a passar por desgastes com os produtores do programa devido ao prazo apertado. "Nós éramos muito pressionados para fazer um carro com glamour para televisão, eles não se importavam se ele andava ou freava, por exemplo, tinha que ser um show-car. Sempre deixamos claro que, para a oficina, o quadro não é bom. Por isso nenhuma fica por muito tempo", comentaram.

Saldo da participação

Segundo Tarso Marques o saldo da participação foi positivo. A empresa dele nunca vendeu um carro sequer por causa do programa, mas em compensação ele lançou uma linha de produtos licenciados que deu visibilidade à marca. "Nosso caderno chegou a ser o mais vendido do Brasil por anos", lembra.

Já Emerson Calvo, Daniel Barbosa e Juliano Barbosa afirmam que tiveram prejuízos. "Durante a nossa participação, tivemos problemas com a Globo e um ex-funcionário, saímos com uma mão na frente e outra atrás, demorou quatro anos para conseguirmos nos reerguer. Chegamos a ter depressão, mas hoje seguimos trabalhando e estamos na melhor fase da nossa carreira."

O UOL Carros procurou outras oficinas que participaram do programa, mas a maioria já fechou as portas. A reportagem também procurou a TV Globo, mas a assessoria da emissora optou por não comentar o assunto.

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